sábado, 24 de setembro de 2011

Poema

Te observo
fazendo meu amor de servo,
cobiçando prazer ser fim.
Te observo
e na minha mente conservo
teus olhos passando por mim.

Se converso,
Rio do meu amor disperso,
mordo os lábios pra disfarçar.
Se converso,
ouço cada frase como um verso:
mil estrofes a declamar.

Quando sonho,
rapidamente desvergonho,
tenho-te como eterno amante.
Quando sonho
acordada, amarga suponho
o efeito do seu toque esfuziante.

Quando sonho,
se converso,
te observo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Observações no Metrô

Sempre fui fascinada pelo metrô. Quando pequena, quase não andava de metrô, pois fazia tudo no bairro. É por isso que me lembro bem definidamente de quando entrei em um vagão pela primeira vez: fui ao centro de São Paulo com a minha tia aos oito anos. Que emoção!
Foi na adolescência, aos 14, 15 anos, que comecei a andar de metrô frequentemente. Me sentia livre, independente! Tinha a sensação de que poderia ir a qualquer lugar sem que meus pais soubessem, já que não teriam que me levar. Podia passar um fim de tarde no centro, uma manhã na Liberdade, uma noite na Vila Madalena... Tudo por menos de três reais.
Nesses passeios, passei a observar as pessoas mais atentamente. Costumo dizer até hoje que as linhas representam classes sociais. Nas linhas vermelha e azul (nesta última, principalmente por causa da Estação da Sé), tem sempre muita gente, a maioria trabalhadores e jovens humildes. Nas linhas verde e amarela, sempre tive onde sentar, pois raramente está cheio. Grande parte são jovens alternativos, alguns leem, outros escutam música em seus fones de ouvido.
Esperando chegar ao meu destino, já reparei naqueles que pedem licença ao sentar na cadeira ao lado, aqueles que se desculpam por ter esbarrado em alguém, ou ainda aqueles que puxam papo com os outros. Também observei os que nada falam, os que balançam suas cabeças ao som da música, ou os que falam alto demais.
Em todos os casos, sempre fiquei curiosa para saber como é a vida dessas pessoas. São casados? Têm filhos? Trabalham? Hobby favorito? Qual foi seu último momento ruim? Considera-se feliz?
Essa constante reciclagem de pessoas, de estação em estação, faz com que eu fique mais e mais intrigada. A cada parada, metade sai e o correspondente a essa metade entra. Assim como numa biblioteca, onde sei que jamais terei tempo para ler todos os livros, o metrô me dá a mesma angústia.Quero conhecer mais sobre o cotidiano e o extraordinário da vida dessas pessoas, mas é impossível conhecer tantas histórias interessantes. Desse modo, sinto-me só mais uma estrela na Via Láctea. Quer eu ande de metrô, ou não, esses corações continuarão a bater e a vida continuará pulsando pelo subterrâneo de São Paulo.
Ao mesmo tempo que me sinto insignificante em meio a tanta gente, percebo alguns momentos nos quais eu faço a diferença. Outro dia, estava esperando uma amiga chegar na estação Santa Cecília. Ela se atrasou, então fiquei lendo um painel na entrada que cita autores e artistas brasileiros, pelo qual eu sempre passava, mas nunca dava importância. Li um corredor de aproximadamente 15 metros, repleto de Machado de Assis, Olavo Bilac, Graciliano Ramos, entre tantos outros. O interessante é observar o impacto que isso causa nas pessoas. Alguns pararam para olhar o que eu estava fazendo, alguns passavam os olhos por algumas biografias, outros não sabiam se deviam se meter na minha frente, então acabávamos numa desconfortável dança por espaço; e outros simplesmente passavam reto. 
O que mais me tocou foi ver os poucos seguindo o meu exemplo, apesar do visível estranhamento de alguns, como se eu estivesse xarope. Quem sabe esteja. Porém, não pude deixar de sorrir ao ver um jovem lendo com dificuldade um poema para a mãe, possivelmente analfabeta.
De um jeito ou de outro, cada um de nós tem o poder de mudar pelo menos um hábito de alguém. Talvez eu tenha incentivado algum jovem a gostar de ler, ou outro a se interessar pela arte. Quem sabe, isso mude totalmente o rumo dessa pessoa. Ou somente acrescente um novo hobby. Afinal, sou só mais uma gota nas veias da rede metroviária paulistana.

PS: estou adorando esse projeto de arte no metrô. No Paraíso, há toda semana uma apresentação de dança, além das diversas exposições nas outras estações. Convido a todos para que experimentem fazer o que fiz!